-
"As crianças têm um modo peculiar de entender o
mundo", diz Javier Naranjo, que compilou as definições feitas por
crianças colombianas
Vão desde A de adulto ("Pessoa que em toda coisa que fala, fala
primeiro de si", segundo Andrés Felipe Bedoya, de 8 anos), até V de
violência ("A parte ruim da paz", na definição de Sara Martínez, de 7
anos).
O dicionário está no livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas
crianças", uma obra que surpreendeu ao se tornar o maior sucesso da
Feira Internacional do Livro de Bogotá, no final do mês de abril. A
surpresa aconteceu especialmente porque o livro foi publicado pela
primeira vez na Colômbia em 1999 e reeditado no início desse ano.
Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)
Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
Colômbia: É uma partida de futebol (Diego Giraldo, 8 anos)
Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)
Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos) Fonte: livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", de Javier Naranjo
Fonte: livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", de Javier Naranjo
Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)
Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
Colômbia: É uma partida de futebol (Diego Giraldo, 8 anos)
Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)
Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos) Fonte: livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", de Javier Naranjo
Fonte: livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", de Javier Naranjo
"Isso me faz pensar que o livro continua revelando, continua falando
sobre as pequenas coisas", disse à BBC Mundo Javier Naranjo, que
compilou as definições feitas por crianças colombianas.
"Eles têm uma lógica diferente, outra maneira de entender o mundo,
outra maneira de habitar a realidade e de nos revelar muitas coisas que
esquecemos", diz.
É assim que, no peculiar dicionário, a água é uma "transparência que se
pode tomar", um camponês "não tem casa, nem dinheiro. Somente seus
filhos" e a Colômbia é "uma partida de futebol".
Além disso, uma das definições de Deus passa a ser "o amor com cabelo
grande e poderes", a escuridão "é como o frescor da noite" e a solidão é
a "tristeza que a pessoa tem às vezes".
'Outra visão do mundo'
As definições - quase 500, para um total de 133 palavras diferentes -
foram compiladas durante um período "entre oito e dez anos", enquanto
Naranjo trabalhava como professor em escolas rurais do leste do país.
"Na criação literária fazíamos jogos de palavras, inventávamos
histórias. E a gênese do livro é um dos exercícios que fazíamos", conta
ele, que agora é diretor da biblioteca e centro comunitário rural
Laboratório do Espírito.
Ele diz que teve a ideia de pedir aos alunos uma definição do que era uma criança, em uma comemoração do dia das crianças.
"Me lembro de uma definição que era: 'uma criança é um amigo que tem o
cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir mais cedo'. Eu adorei, me
pareceu perfeita."
"As crianças escolheram algumas palavras e eu também: palavras que me
interessavam, sobre as quais eu me perguntava. Mas não fugi de nenhum",
afirma Naranjo.
No dicionário aparecem temas do cotidiano da Colômbia, como guerra e
"desplazado", pessoa que se desloca pelo país, geralmente fugindo de
conflitos. Um dos alunos definiu a palavra criança como "um prejudicado
pela violência".
Aprender a escutar
Para a publicação, Naranjo corrigiu a pontuação e a ortografia das
definições escolhidas, mas afirma não ter tirado nenhuma das palavras
por "questões ideológicas".
Por isso, o livro mantém a voz das crianças, com suas formas de
explicar as coisas e construções gramaticais particulares. Bianca Yuli
Henao, de 10 anos, define tranquilidade como "por exemplo quando seu pai
diz que vai te bater e depois diz que não vai".
O ex-professor diz que o respeito à voz das crianças também é parte do
sucesso do livro, que foi reeditado em 2005 e 2009 e inspirou obras
semelhantes no México e na Venezuela.
As vendas do livro ajudaram a financiar as atividades da biblioteca
atualmente dirigida por Naranjo, que continua convidando as crianças a
deixar a imaginação voar com outras dinâmicas.
"Nós adultos somos condescendentes quando falamos com as crianças e
deve ser o contrário. Mais que nos abaixarmos temos que ficar na altura
deles. Estar à altura deles é nos inclinarmos para olhar as crianças nos
olhos e falar com elas cara a cara. Escutar suas dúvidas, seus medos e
seus desejos", diz.
É incrível o poder de percepção das crianças, muitas vezes pensamos que a criança que está brincando no seu próprio mundo não está prestando atenção nas coisas que acontecem ao seu redor, mas não é bem assim. O poder de percepção do que ocorre ao seu redor é muito maior que o dos adultos, pois alguns significados trazidos pelas crianças do livro, apresentam comportamentos comuns da determinada palavra, como por exemplo, a palavra adulto. Pouquíssimas pessoas se dariam conta que realmente nós adultos temos uma tendência muito grande de falarmos de nós mesmos. Em uma conversa entre duas pessoas, uma delas conta um fato, a outra comenta o fato com uma experiência própria e acaba trocando o foco da conversa para si. Quem nunca fez isso?
ResponderExcluir