"As chuvaradas de verão,
quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações
desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial
interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas
inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de
haveres e destruição de imóveis.
De há muito que a nossa engenharia
municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes
urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão
perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples
problema. O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios
elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos
violentas, para viver a sua vida integral. Como está acontecendo
atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha! Não sei nada de
engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão
difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros
municipais, procrastinando a solução da questão.
O Prefeito Passos, que
tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente
de solucionar esse defeito do nosso Rio. Cidade cercada de montanhas e
entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações
atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das
inundações. Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos
externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas
da nossa vida urbana, econômica, financeira e social"
Vida urbana,
19-1-1915.
Lima Barreto.
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