Algumas particularidades deste gênero de escrita:
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As crônicas, pelo seu aspecto jornalístico e pelos assuntos retirados do
cotidiano, são publicadas, em geral, em jornais e revistas de
informação. Os cronistas costumam ter uma coluna, diária ou semanal,
nesses veículos da imprensa. Algumas vezes, depois de um certo tempo,
acabam por reunir num livro as crônicas de que mais gostam. Mas o grande
espaço da crônica é mesmo o jornal e a revista;
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Vimos que as lembranças dos eventos da vida são um dos assuntos preferidos dos cronistas.
Vamos ler agora uma crônica escrita por Danuza Leão
A casa da minha avó
Era um sobrado; na parte de baixo, o armazém do meu avô, onde se vendia
um pouco de tudo Tecidos, renda, sianinha, botões, fumo de rolo, açúcar,
feijão e grãos de um modo geral - não em pacotes mas em sacos grandes,
que ficavam no chão. No andar de cima, onde morava a família, era a casa
da minha avó - nunca do meu avô.
No armazém havia um balcão onde os
mais chegados iam toda tarde conversar, com direito a um copinho de
cachaça - um só. Meu avô, italiano, se vestia de terno, gravata e
colete, e em casa se concedia o direito de tirar o paletó, mas sempre de
gravata e colete.
Em cima, dando para a praça, havia uma sala de
visitas que só era aberta em ocasiões muito especiais - que nunca
aconteciam -, com sofá, cadeiras estofadas e um piano. Mais para dentro
uma grande sala de jantar onde todos almoçavam e jantavam à mesma hora –
11h 30 e 19h, em cada quarto, três ou quatro camas, e banheiro era um
só, para os avós, 12 filhos e os netos que lá passavam grandes
temporadas.
Minhas oito tias só tinham um objetivo na vida. Arranjar
um marido, e bastava que ele fosse um rapaz bom e trabalhador. Das oito,
só uma trabalhava, era professora, e ia a cavalo, todos os dias, dar
aulas. Foi a única que ficou solteira. As outras se casaram e para suas
filhas só havia um objetivo na vida. casar, ter filhos. E assim corria a
vida.
Nos fundos da casa, havia uma varanda virada para o rio; ao
lado, a cozinha com uma janela de onde se tinha a vista mais bonita da
casa, por essa janela a empregada jogava o lixo. A palavra ecologia
ainda não existia e da varanda nós, crianças, ficávamos vendo as cascas
de laranja e banana sendo levadas pela correnteza.
A grande aventura
era dormir no chão duro. Os menores imploravam para ter o privilégio de
dormir com um lençol em cima dos tacos e um travesseiro. Era essa a
grande farra.
Uma vez por semana vinha um homem lavar o chão da casa,
ele jogava baldes de água, passava sabão, depois enxaguava, tirava o
excesso com um rodo e secava com um pano. Só a sala da frente era
encerada e o brilho dado na mão, com uma flanela. Quando o trabalho
estava pronto ficava um cheiro de casa de gente honesta, de gente
direita. Onde foram parar esses cheiros?
As comidas eram de interior*
galinha quase todo dia e, para dar uma corzinha ao refogado, colorau.
Os legumes eram da roça. Abobrinha, jiló, couve, repolho, chuchu. Às
vezes uma tia perguntava. "Você quer um ovo frito?" Esse privilégio só
acontecia às vezes e só para os netos que estavam de visita.
As
sobremesas eram doces de banana em rodelas e de mamão verde. Esse meu
lado da família (da minha mãe) não era muito de comer. Lá pelas 21h
tinha um lanche modesto: café com leite, pão e manteiga, aos domingos
havia biscoitos, e cada uma das crianças tinha o direito de fazer um do
feitio que quisesse, que era sempre o mesmo: uma lagartixa e no lugar
dos olhos, dois feijões.
Uma ou duas vezes por ano o rio subia sem
violência, tranquilamente, e inundava a cidade; as pessoas saíam de casa
de bote para fazer compras ou uma visita. Uma enchente era melhor do
que qualquer coisa, e as pessoas tiravam retrato nos botes.
Havia
muitas visitas a tias, avós e primas longínquas. Os laços familiares
eram cultivados com cuidado, mas o melhor de tudo era quando as tias
moravam do outro lado do rio, porque aí a gente atravessava a ponte, o
que era, sempre, uma emoção. E ainda havia a ponte de ferro por onde
passava o trem, que era um perigo. O sonho de todos nós, crianças, era
atravessar essa ponte pulando sobre os dormentes, e a minha falta de
coragem para desobedecer e atravessar a ponte de ferro é uma frustração
até hoje não superada. Outra, nunca ter tomado um banho no rio.
São belas as lembranças de quem passou parte da infância em uma cidade do interior com um no e uma ponte - duas, aliás.
E melhor ainda é lembrar
LEÃO, Danuza. Folha de S. Paulo, Caderno C, 21 jul. 2002, p. 2.
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A autora descreve a casa da sua avó e relata algumas de suas rotinas. E
dá destaque àquilo que era mais marcante para as crianças. Qual era "a
maior aventura"? O que era "o melhor de tudo"? E qual era "o sonho" de
todas as crianças que frequentavam a casa?
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Perto do fim da crónica, encontramos a autora confessando uma velha
frustração (qual é ela?). E, em seguida, arremata o texto com uma breve
reflexão motivada pelo relato das lembranças da infância. Que nos diz
ela sobre estas lembranças?
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A autora fala das oito tias. Nada diz, porém, sobre os tios. Apesar
disso, há um dado no texto que nos permite inferir que eles eram em
número de quatro. Que dado é este?
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O que quer dizer a autora quando afirma: "A palavra ecologia ainda não existia"?