Na escola, esse professor cada vez mais é visto - e com razão! - como um
dos principais responsáveis pelo desenvolvimento corporal e mental de
crianças e jovens.
A cabeça da molecada absorve cálculos, eventos históricos e
línguas diferentes como uma esponja. Essa, portanto, é a fase mais
propícia para guardar diversos conceitos na memória pelo resto da vida. O
princípio acima, que você provavelmente já conhece, não se restringe às
aulas de matemática, geografia, português... Na realidade, se há um
momento para fixar a ideia de que as atividade físicas podem ser
extremamente prazerosas e benéficas, é o que abrange a infância e a
adolescência. "A literatura científica mostra que, quando as primeiras
experiências com exercícios são positivas, a pessoa tem bem mais chances
de não se tornar sedentária nas décadas seguintes", relata Rodrigo
Siqueira Reis, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E
quem melhor do que um professor graduado em educação física para
oferecer esse contato agradável com o mundo dos esportes, da dança, das
lutas e por aí vai?
"Pela sua formação, ele consegue apresentar
um leque variado de práticas e, com isso, a probabilidade de ao menos
uma delas satisfazer o aluno aumenta", reforça Reis. Não à toa, a grande
maioria dos municípios nacionais exige que esse docente possua
licenciatura em educação física.
Agora, o trabalho desse
profissional não se resume a colocar a meninada para suar em inúmeras
modalidades. "Ele também precisa discutir o contexto de cada atividade,
desde as regras até sua história, incluindo o que elas representam para a
sociedade contemporânea", avalia Marcos Garcia Neira, pedagogo e
professor da Universidade de São Paulo. Só com esses estímulos, muitas
vezes dados fora da quadra, os jovens criam um vínculo forte, crítico e
duradouro com os exercícios.
Uma obra em construção
Dos
neurônios aos músculos, passando por ossos e órgãos internos, o
organismo juvenil está em pleno desenvolvimento. Tratase de uma época
essencial à formação da estrutura física. "E a disciplina em questão,
desde que bem conduzida, ajuda a deixar o corpo saudável como um todo,
afastando o risco de uma série de doenças", afirma Jorge Steinhilber,
presidente do Conselho Federal de Educação Física, no Rio de Janeiro.
Esse fator ganha ainda mais importância no atual cenário brasileiro,
onde um quinto das crianças e dos adolescentes está acima do peso e
começa a sofrer com problemas de gente grande, a exemplo de hipertensão,
diabete tipo 2 e altas taxas de colesterol. Se esses transtornos não
são freados no começo, fica difícil se livrar deles mais para a frente.
Além
de prevenir males, o profissional de Educação Física identifica
eventuais anormalidades nos alunos. "Por observar diariamente corpos em
crescimento e conhecer a anatomia do ser humano, ele reconhece desvios
de postura, respiração fraca e falta de coordenação", exemplifica Mário
Sérgio Rossi Vieira, fisiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, na
capital paulista. Não é que ele diagnosticará, por si só, uma chateação
qualquer. Contudo, sua avaliação em muitas ocasiões é o passo inicial
para que o médico identifique e trate desde cedo uma enfermidade. Outra
razão para os pais e diretores ouvirem com atenção o que esse professor
tem a falar sobre a garotada.
Um gás para outras matérias
Como
parte do projeto das Olimpíadas de Londres, o governo britânico criou o
programa School Sports Partnership, que visa reforçar o papel dos
esportes dentro do ambiente escolar. "A iniciativa trouxe resultados
interessantíssimos. Um deles é o de que os estudantes favorecidos
melhoraram seu desempenho em várias disciplinas", analisa Daniela
Castro, diretora executiva da organização não governamental Atletas pela
Cidadania. Logo, a valorização das atividades físicas contribui, de
alguma maneira, para o aprendizado em matemática, química, geografia...
"A
médio e longo prazo, a educação física escolar controla a agressividade
ao mesmo tempo que estimula a organização e a disciplina", argumenta
Reis. "Esses fatores contribuem para que a criançada fique focada e
renda em diversas classes", conclui. Sem contar que existem pesquisas
científicas relacionando a malhação com a gênese de neurônios. Pelo
menos em teoria, essa produção acelerada de células nervosas favorece a
consolidação de informações no cérebro jovem.
Tudo isso
justifica o recente levantamento do Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística (Ibope), que aborda a situação do professor de
educação física no Brasil. Encomendado pela ONG Atletas pela Cidadania e
outras instituições, ele revela, entre outras coisas, que os colégios
públicos reservam, em média, duas aulas por semana para o contato com
esse profissional. "Parece pouco, principalmente porque crianças e
jovens precisam se exercitar diariamente", relata Steinhilber. "Porém, o
intuito da disciplina não é cumprir essa meta sozinha, e sim incentivar
o aluno a se movimentar no seu dia a dia", arremata. Fica dada a lição.
Lição de casa
Acredita-se que a
educação física é sempre recreativa e agitada. "Mas ela também deveria
englobar o estudo teórico das práticas corporais", diz Marcos Garcia
Neira, da Universidade de São Paulo. Por isso, não estranhe se seu filho
tiver que fazer pesquisas em casa para essa matéria. Aliás, auxiliá-lo
nessa atividade é uma bela maneira de promover a saúde dele.
Sedentarismo no tempo livre
Não
basta contar com o melhor professor de educação física se, fora da
escola, o estudante tem poucas opções para se entreter com uma atividade
física qualquer. Adolescentes que moram longe de parques e que não
contam com amigos adeptos de uma chacoalhada no esqueleto, por exemplo,
tendem a se exercitar pouco. "Os pais devem contra-atacar levando os
filhos a locais onde eles possam se divertir mexendo o corpo", diz Reis.
Os professores de educação física no Brasil 47% são homens
53% são mulheres
A média de idade
De 18 a 24 anos 8%
De 25 a 29 anos 19%
De 30 a 39 anos 35%
De 40 a 49 anos 27%
50 anos e mais 11%
Tempo de carreira
até 1 ano 11%
de 2 a 5 anos 29%
de 6 a 10 anos 20%
de 11 a 20 anos 20%
mais de 20 anos 20%
Formação dos docentes (em %)
Dança 4
Gestão escolar 4
Educação física 83
Pedagogia 13
Outros 13
Como o tempo é gasto na aula (em minutos)
Para obrigações burocráticas 5
Para realizar ações disciplinares 5
Para mobilizar e organizar os alunos 7
Para explicações iniciais 7
Para as tarefas em si 29
44% deles possuem pós-graduação com especialização na área de educação física dentro do ambiente escolar
8,2 é a nota que os professores de educação física dão, em média, à satisfação com o próprio trabalho
41% dos educadores físicos afirmam que seus alunos faltam muito à aula
Fonte: Revista Saúde é Vital