quinta-feira, 20 de março de 2014

O FILÓSOFO COLETIVO E O VERDADEIRO VALOR DE UM PRESENTE




Existem muitas histórias sobre o Filósofo Coletivo. E uma delas é que ultimamente ele tem recepcionado seus passageiros, com algum tipo de bebida destilada e a seguinte pergunta: - Você sabe o verdadeiro valor de um presente? Logo, acontecia o óbvio, aqueles que não o conheciam ficavam muito perplexos, em poder estar frente a frente, com este sábio senhor do alambique!
Mas como o mundo dá voltas, chegou minha vez de ser abordado por este eloquente filósofo do transporte público. Já que, nem sempre temos a honra de presenciar o nosso amigo dissertar sobre, assuntos como, o verdadeiro valor de um presente. Foi então, que fiquei em silêncio total durante o balanço do ônibus. Apenas ouvindo a voz da experiência filosofar.
Em certo momento, nosso Filósofo Coletivo citou o caso de um menino, que ganhou uma bicicleta de natal e simplesmente fez o pai troca-la por um computador. Pois este garoto de treze anos que ainda não sabia pedalar, não demonstrou a mínima vontade em desenvolver tal habilidade. E tão pouco valorizou o presente dado, por seu pai, com muito amor.
Será que o valor de um presente, está diretamente ligado ao caráter da pessoa presenteada? Provavelmente. Já que, cada um corresponde da sua forma! Ou seja, alguns serão eternamente insatisfeitos, sendo assim: uma flor será apenas uma flor. Mas para outros, uma simples flor pode representar um valioso jardim em seu coração.
Contudo, o valor de um presente é pessoal e intransferível. Bem como, o valioso jardim no coração do nosso sábio amigo Filósofo Coletivo!
Nossa! Quase perdi o ponto de descer do ônibus, vou nessa!
Até a próxima semana!




RICARDO TORQUATO

Licenciado em Educação Física – ULBRA Gravataí.

sexta-feira, 14 de março de 2014

RUMO AO HOLOCAUSTO




Depois de testemunhar uma série de agressões raciais, que parece nos direcionar rumo a um holocausto. Venho neste meio de comunicação, onde, semanalmente expresso minha criatividade, convida-los a relembrar algumas palavras registradas pela jovem Anne Frank, em seu diário, durante a segunda guerra mundial.
“Não poder sair me deixa mais chateada do que posso dizer, e me sinto aterrorizada com a possibilidade de nosso esconderijo ser descoberto e sermos mortos a tiros. Esta, claro, é uma perspectiva muito desalentadora.” (Anne Frank, 28 de setembro de 1942).
Talvez, fazer comparações com tamanha magnitude, seja exacerbar um pouco tal situação. Já que, o Brasil é uma nação totalmente distante de qualquer tipo de racismo ou preconceito, pois aqui todos são tratados com igualdade independente da sua cor, raça, religião, opção sexual ou classe social. Entretanto, as verdadeiras circunstâncias nunca foram essas. Já que, estamos falando de um país que escravizou seu povo por mais de quinhentos anos, e, até hoje em plena Pós-modernidade, vivemos em ilhas, como se uns fossem melhores ou superiores que outros.
É possível notar esse problema, até mesmo, em grupos escolares, onde o colega mais gordinho, o negro, o índio ou aquele colega, considerado o sujinho da turma, com menos condições financeiras, ou por morar em comunidades mais carentes. Esses, geralmente, são discriminados e sofrem bullying.
Desta forma, estendendo essas barbáries por uma vida inteira, criando novos monstros sem algum tipo de compaixão ao próximo. Mas, será que, o Brasil, ainda não deixou de ser colônia portuguesa? Ou todo esse racismo e preconceito estão impregnados em nosso DNA? Quem somos nós para julgar alguém pela: cor, classe social, religião ou opção sexual? Será que algum dia, conseguiremos ser maior que esses preconceitos?
O mais triste é, saber que ainda estamos engatinhando, rumo à evolução da humanidade. Pois, já assistimos declarações infelizes, nada imparciais e totalmente preconceituosas de nossos governantes, bem como a do pastor Marco Feliciano, Deputado (PSC-SP). Afirmando que: a morte de John Lennon (ex-Beatle) e dos cinco integrantes da banda Mamonas Assassinas, foram castigos divinos. Dificulta ainda mais a nossa luta contra o racismo e o preconceito em nosso país!
Contudo, não podemos perder a esperança de ter um Brasil sem racismo e preconceito. Sempre distante do caminho, que nos leva, rumo ao holocausto!

Ricardo Torquato                                                                                                  
Licenciado em Educação Física - ULBRA Gravataí.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Entre os múros da escola

HÉRICKA WELLEN*
A afirmação de que a saída para os males sociais se dará pela educação virou um senso comum de nosso tempo. De forma geral, a necessidade da educação escolar para as novas gerações não se discute mais; virou uma marca indelével das sociedades modernas. Tal pensamento é uma conquista oriunda do pensamento iluminista, que previa que a escola seria o espaço da equalização das oportunidades.
A despeito dessa inquestionável conquista, quando a educação escolar de massa tornou-se o que J. Gimeno Sacristán chamou de consenso transcultural, ou seja, uma necessidade indiscutível, seu caráter histórico foi esvaziado. A escola, que é uma invenção humana, criada para cumprir determinadas funções sociais, passa a ser vista de forma naturalizada. Não se discute mais, por exemplo, quais são, objetivamente, suas funções. Seria ela uma instituição transformadora ou reprodutora das desigualdades sociais? Serviria mais à formação do indivíduo ou ao seu controle?
Essas questões não respondidas acabam por levar a uma escolarização sem objetivos claros. Para os sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Patrick Champagne, a mera permanência na escola faz dos alunos excluídos potenciais – os “excluídos do interior” – que vivem as contradições e os conflitos de uma escolaridade que não tem outra finalidade senão ela mesma. Trata-se do pensamento cruel de que “é melhor estar na escola do que na rua”.
Ainda segundo esses autores, constata-se um mal estar nas escolas francesas, relacionado a uma crise mal identificada e dispersa que, por não dispor de uma análise precisa, oscila entre a responsabilização individual dos alunos – considerados insolentes, preguiçosos – e uma responsabilização coletiva mal definida direcionada especialmente aos professores.
Esse mal estar e o modo como afeta a relação entre alunos e professores nas escolas públicas francesas estão bem retratados no filme “Entre os muros da escola” (Entre les murs). O filme, baseado no corajoso livro homônimo do professor François Bégaudeau, foi dirigido por Laurent Cantet e recebeu a Palma de Ouro por melhor filme no Festival de Cannes em 2008.
entre os muros 1
“Entre os muros…” foi filmado com ares de documentário. O próprio professor e autor do livro – François Bégaudeau – atua como o professor protagonista do filme; os demais personagens – professores, alunos, pais de alunos etc. – também não são atores profissionais. Essa escolha do diretor traz um desconcertante realismo ao filme e atinge um ponto crucial para se pensar nessa crise difusa e mal definida da escola: a vulnerabilidade de alunos e professores frente a uma realidade social desigual e injusta.
O filme retrata uma escola pública na periferia de Paris e as relações entre os sujeitos da escola nas mais diversas situações: sala dos professores, conselho de classe, conselho disciplinar, pátio, reunião de pais e mestres e, especialmente, na sala de aula da sétima série nas aulas de língua francesa do professor Marin (François Bégaudeau).
entre os muros 2
Já no início do filme, que é o próprio início do ano letivo, os professores veteranos apresentam-se aos novos professores da escola, e alguns pontos importantes da relação professor-aluno ficam evidentes. O primeiro deles é o desgaste emocional da profissão. Essa questão pode ser vista quando um professor que está para se aposentar deseja “muita coragem” aos mais novos ou, ainda, de forma mais explícita, quando o professor de tecnologia, num momento de claro descontrole emocional, desabafa :
“[...] Cansei desses palhaços! Não dá mais! Eles não são nada, não sabem nada. Ficam ignorando a gente. Você tenta ensinar alguma coisa e eles continuam na merda. Não vou mais ligar. Acabou. Eles são tão baixaria, tão ruins. Vivem aprontando. Vai molecada, continuem no seu bairro fedido, é onde vão passar o resto da vida e vai ser bem feito. [...] Já viram como eles ficam no pátio? Parece que estão no cio. Ficam pulando e gritando como animais. É um absurdo! Chega! Não somos bichos”.
O professor de tecnologia não é o único a usar palavras preconceituosas contra os alunos; o próprio professor Marin, que sempre procura praticar uma postura democrática com seus alunos, dialogando com eles e, muitas vezes, chegando mesmo a discussões – que só revela seu real interesse pelo pensamento dos alunos – perde a cabeça em determinado momento e desrespeita duas de suas alunas.
As palavras dos professores revelam uma crise na profissão de professor que exige uma análise profunda e cuidadosa. De maneira breve, pode-se dizer que grande parte da explicação para esse desconforto está nas más condições de trabalho enfrentadas por esses profissionais. No filme, não há referências a salários baixos. Não há como afirmar em que patamar social esses professores se encontram na França. Ou seja, seguindo a discussão do filme, não há como afirmar se os professores de ensino fundamental ganham tão pouco quanto no Brasil, mas é certo que, da mesma forma que aqui, não conseguem concretizar seu trabalho.
Essas más condições não estão relacionadas apenas ao salário, mas ao fato de que a escola continua com uma estrutura seriada e apoiada num binômio aprovação/reprovação[1] que não permite que se priorize a formação de cada um desses alunos. Por que esses alunos têm que aprender a mesma quantidade de conteúdos em determinado ano escolar?
As pesquisas na área da psicologia e da educação[2] demonstraram que a aprendizagem significativa exige a participação ativa do aluno e que nem todos aprendem da mesma maneira e no mesmo ritmo. Se o ensino fundamental tem oito ou nove anos, os alunos deveriam ter oito ou nove anos para dominar o que o currículo oficial pede, levando o tempo que precisam em cada área do conhecimento. Experiências escolares mais inovadoras têm mostrado como é possível uma escola diferente, sem “flexibilizar” currículo ou cortar conteúdos escolares.
O descompasso na formação dos professores com a realidade engessada da escola, que pouco mudou desde o século XVIII, pode ser uma das explicações para a crise na profissão, porque impossibilita que se trabalhe como se acredita que deve ser e reforça o pensamento conservador de que “na prática, a teoria é outra”.
Além disso, não levar em consideração as desigualdades que as crianças vivem na sociedade, longe de ser uma atitude equalizadora, só afasta ainda mais essas crianças do conteúdo a ser aprendido. Não há nenhum conhecimento que não tenha sido forjado por uma necessidade humana. Dessa forma, todo ser humano é capaz de aprender mesmo os conhecimentos mais abstratos, desde que as experiências sociais sejam organizadas na escola de forma que respeite o aluno real e suas experiências reais[3].
A escola em que se passa o filme, por exemplo, tem como característica marcante a diversidade étnica e social. Os alunos são de origens muito diversas e, em se tratando de um país em que a escola pública é frequentada por diferentes classes sociais, possuem experiências sociais também muito diversas. Há famílias, por exemplo, que não dominam a língua francesa, como é o caso da família do aluno Wey, que é chinesa; ou não falam francês de forma alguma, como é o caso da mãe do aluno malês Souleymane.
É com esse aluno que se passa o momento mais delicado e tocante do filme. Souleymane é um menino que responde aos professores, fala palavrões em sala de aula, briga com frequência. No entanto, é querido por seus colegas e sua mãe garante que é bom filho. Na verdade, Soulemayne não acredita mais na escola, assim como muitos de seus colegas e deixa isso bem claro no seu modo “insolente” de se comportar.
No entanto, em uma das tarefas pedidas pelo professor Marin, em que cada aluno deveria fazer seu autorretrato, Souleymane destaca-se usando a fotografia. O professor valoriza seu trabalho e ele consegue superar suas dificuldades de escrita, atingindo o objetivo proposto. Esse fato isolado, infelizmente, não é capaz de transformar o destino do menino, que acaba sendo expulso da escola. Fica claro no filme que o professor Marin não se sente confortável com a situação. Ele sabe que a expulsão só prejudicará Souleymane, mas não consegue agir de forma que o livre disso.
entre os muros 3
Em “Entre os muros…” fica claro que os professores procuram ter uma postura democrática na escola, embora ela continue regida por um sistema que prioriza a separação entre melhores e piores a formação de indivíduos. Há a participação de pais de alunos e de representantes dos alunos nas reuniões, embora essa presença não garanta transformações. Ou seja, o faz de conta de que há democracia só aumenta a desconfiança de pais e alunos em relação à escola.
Dentre as muitas questões importantes que o filme desperta, uma há que é fundamental: as desigualdades sociais não se anulam dentro da escola. A escola não pode ser uma instituição transformadora dentro de uma sociedade conservadora. O esforço individual não é suficiente para lutar contra uma estrutura que elimina e exclui. No entanto, a conscientização desses problemas pode tirar professores e alunos de lados opostos, levando a uma luta coletiva para a transformação da educação escolar e da sociedade.

Título Original: Entre les Murs.
Origem:
 França, 2008.
Direção:
 Laurent Cantet.
Roteiro:
 Laurent Cantet, François Bégaudeau e Robin Campillo, baseado em livro de François Bégaudeau.
Produção:
 Caroline Benjo, Carole Scotta, Barbara Letellier e Simon Arnal.
Fotografia:
 Pierre Milon, Catherine Pujol e Georgi Lazarevski.
Edição:
 Robin Campillo e Stéphanie Léger.

* wellen-herickaHÉRICKA WELLEN é Doutora em Educação pela USP.

terça-feira, 4 de março de 2014

Tudo o que semeares, colherás!

"Na convivência, o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida. 
O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida. Lembra que o que importa é tudo que semeares, colherás. 
Por isso, marca a tua passagem. Deixa algo de ti, do teu minuto, da tua hora, do teu dia, da tua vida."


Mário Quintana