terça-feira, 26 de março de 2013

Escolas oferecem aulas de circo para trabalhar a concentração dos alunos

Curso ensina equilíbrio, concentração e expressão corporal às crianças. Escolas regulares adotam curso circense no contraturno da grade regular.

Com 15 tatames e algumas bolas, pratos de plástico e malabares, o professor Pedro Cauê Marques Levy, de 23 anos, transforma a área de recreio do Colégio Itatiaia, em São Paulo, em um picadeiro. As aulas de circo na escola, realizadas uma vez por semana durante 50 minutos, começaram em 2011 e, dois anos depois, o grupo já dobrou de tamanho. Oferecida como opção de atividade extracurricular em colégios particulares, as aulas circenses vêm ganhando espaço por engajarem crianças e adolescentes em exercícios físicos de forma lúdica e estimularem a concentração, a disciplina, a expressão corporal e o trabalho em equipe, incluindo a confiança em si mesmos e nos colegas.
Segundo Tamira Vital Nogueira, assistente de coordenação da Unidade Paraíso-Paulista do Colégio Itatiaia, a escola sempre busca atividades extracurriculares diferenciadas para oferecer aos alunos, mas é o interesse das crianças que faz com que as novidades se transformem em tradição.
Atualmente, 20 alunos de cinco a 11 anos participa das aulas, pelas quais seus pais pagam R$ 65 à parte da mensalidade. Mesmo depois de um dia inteiro de aulas, os pequenos têm energia de sobra para saltitar sobre o tatame em linha reta e de costas, engatinhar de barriga para cima com o apoio apenas dos pés e das mãos, deitar sobre a nuca com as pernas para cima, jogar malabares para o alto e equilibrar pratos giratórios sobre um palito. Tudo sob o comando de dois professores –um segundo foi contratado para dar conta da demanda em alta.
Na quinta-feira (14), Lucca Augusto Neto completou 7 anos e, além da festa com os pais e colegas no Itatiaia, onde cursa o segundo ano do fundamental, ele ganhou a regalia de voltar mais cedo para casa. Mas, segundo a mãe, o garoto pediu para voltar ao colégio, pouco depois. “A gente estava fazendo a lição de casa e ele falou ‘mãe, tem a aula de circo’”, contou a administradora Vivian Carneiro Neto.
Lucca começou as aulas de circo em 2011, quando se matriculou no colégio. “Acho que ele nunca se identificou tão bem na vida”, afirmou a mãe.
O gerente de informática Daniel Antonio Augusto Neto, pai do garoto, conta que se surpreendeu no início deste ano com o aumento de crianças matriculadas no curso. “Muitos ficavam só olhando e queriam brincar. Para eles, no final é uma brincadeira”, disse.
Vivian explica que observou, durante o último ano, o desenvolvimento das habilidades do filho. A corda de tecido, por exemplo, sempre desafiou Lucca, que não tinha a força nos braços exigida. Mas, durante a apresentação de fim de ano preparada para os pais, o garoto conseguiu completar a acrobacia e a apresentou como surpresa para a mãe.
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O pai não pensa na possibilidade de Lucca se machucar durante as aulas de circo. Para ele, como as crianças não praticam a corda de uma altura muito alta, as chances de se machucarem não é maior que em outras aulas da escola. “É a mesma chance de levar uma bolada”, explica Augusto Neto.
Criatividade e auto-conhecimento
O Colégio Pueri Domus acrescentou as aulas de circo em 2010 em uma lista que inclui rúgbi, esgrima, coral e capoeira, entre outras atividades de suas quatro unidades na Grande São Paulo. O objetivo, segundo a escola, é “despertar nos alunos a criatividade, a coletividade, a concentração e o auto-conhecimento, envolvendo o aspecto cultural, educacional e esportivo”.
Atualmente, a escola afirma ter 30 alunos matriculados nas aulas de acrobacias, corda bamba, malabarismo, cama elástica, perna de pau e esquetes de palhaço, que são oferecidas pela Trupe Educação e Picadeiro. O valor varia de R$ 150 a R$ 170, dependendo do número de dias na semana em que o aluno participa.
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De acordo com o diretor administrativo da trupe, Kaoê Gonçalves, outras duas escolas contrataram o serviço em São Paulo, e o número de alunos matriculados atualmente é de cerca de 200.
Gonçalves explica que as aulas de circo atraem porque oferecem uma atividade física sem os obstáculos do formalismo das academias e da competitividade dos treinos de modalidades esportivas. “Quando a gente vai a uma academia normal, a gente sofre só de ouvir falar que tem que fazer dez abdominais. Mas, quando vai fazer uma atividade no trapézio, a gente usa o mesmo músculo, só que sem aquela coisa muito rígida, formal, do exercício pelo exercício”, afirma.
Atividade lúdica e inclusiva
As aulas diferem da educação física porque os objetivos pedagógicos são diferentes, diz o especialista. Elas estariam mais próximas dos treinos que os alunos costumam fazer no contraturno das aulas regulares. Mas, no caso do circo, as atividades não excluem os alunos de acordo com a habilidade em um determinado esporte. “No circo é o contrário, tem espaço para todo mundo”, diz o diretor. “O menos habilidoso vai ter dificuldade para fazer malabares, por exemplo, mas pode ajudar a fazer figura coreográfica.”
A faixa etária em que as aulas ganham mais popularidade são nos primeiros anos do ensino fundamental. De acordo com Gonçalves, uma idade apropriada para ensinar os conceitos por trás dos palhaços é no segundo ciclo do fundamental, na pré-adolescência e início da adolescência. “Quando a criança fica muito mais tímida, retrai um pouco no mundo dela, acha que tem alguma coisa que a sociedade impõe e ela não se enquadra, é aí que entra o trabalho do palhaço.”
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O professor Julio Micheletti Jr, dono da empresa de cursos de arte e cultura que oferece as aulas no Colégio Itatiaia, afirma que começou a oferecer atividades circenses há cerca de dois anos, aproveitando o aumento da procura de aulas de circo em academias e em escolas especializadas. Na época, diz, era preciso bater de porta em porta nas escolas para convencer a diretoria. “Hoje, elas procuram a gente”, afirmou Micheletti.
Júlio disse que atende a mais de cinco escolas e que o número de alunos que participam da aula de circo subiu de 14 para 80 em apenas dois anos.
As aulas de circo são oferecidas na própria escola, em um espaço com equipamento instalado pelas empresas e profissionais especializados na área. “No começo, tentei com professores de educação física, sem especialização, mas não deu muito certo”, diz o professor e empresário. Pedro Levy, o “tio Pedro” dos alunos de circo, dá aulas em três colégios de São Paulo, é formado em educação física e especializado em artes circences, além de pesquisar arte e teatro.
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