domingo, 22 de janeiro de 2012

Vítima de violência, capoeirista que superou paralisia e hoje forma cidadãos em aulas para jovens de comunidades da Tijuca, recebe a medalha Orgulho do Rio

Mestre Fanho exibe a Medalha Orgulho do Rio, por sua dedicação ao ensino de capoeira em comunidades | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
POR CLAUDIO VIEIRA 

Rio - A dedicação à inclusão pelo esporte e sua história de superação conquistaram admiradores nas rodas de capoeira e favelas da Tijuca. O professor de Educação Física Éverton Freitas Batista, 51 anos, o Mestre Fanho, chegou a perder os movimentos, mas deu a volta por cima e hoje forma cidadãos através da capoeira. Por tudo isso, ele recebeu a medalha Orgulho do Rio, oferecida por O DIA, a quem se dedica à melhoria da qualidade de vida da população fluminense. 

Em 34 anos dedicados à luta africana, Mestre Fanho não tem ideia de quantos jovens já receberam seus ensinamentos: “Ela ensina ao jovem a se conhecer melhor e a respeitar seus semelhantes. O objetivo não é vencer a luta, mas sim as dificuldades que a vida apresenta”.

Éverton conheceu a capoeira através do pai, que tocava berimbau nas rodas de Mestre Artur Emídio, um dos primeiros capoeiristas do Rio. Depois, formado em Educação Física, deu aulas em escolas públicas de Nova Iguaçu: “Eram escolas muito pobres, sem equipamentos. Resolvi ensinar capoeira”, lembra. 

Hoje, Mestre Fanho ensina jovens de comunidades da Tijuca, Andaraí e Vila Isabel, e multiplica seu espírito solidário. Leonardo Santos, o Mestre Preguiça, seu pupilo, é um exemplo. “Sinto-me recompensado ao ver que crianças que gostavam de manusear armas de brinquedo hoje são exímios capoeiristas, trabalham e estudam. É um grande orgulho”, emociona-se Leonardo, professor em comunidades. 

Bala perdida quase interrompeu seu sonho 

O dia 17 de março de 2005 ficou marcado na vida de Mestre Fanho. Nesta data, ele quase teve interrompido o sonho de ser professor de capoeira ao levar um tiro de bala perdida. 

Ao sair da academia em que dava aulas, perto do Morro do Andaraí, ouviu tiroteio entre policiais e traficantes. No fogo cruzado, um menino foi baleado na perna. Ao socorrê-lo, Éverton foi atingido por dois tiros. 

Os dois foram socorridos no Hospital do Andaraí. O menino foi logo liberado. Mestre Fanho, com a bala alojada na coluna, recebeu dos médicos a notícia de que ficaria paralítico. Mas ele não aceitou a derrota. Comprou aparelhos de fisioterapia e fez exercícios até de madrugada. Usou colete cervical e tomou medicamentos em fase de teste. 

Um ano e meio após o tiro, Fanho voltou a dar aulas. E embora tenha perdido sensibilidade nas costas e na parte direita do corpo, o professor não esmoreceu. E venceu. 

“Sempre que posso, venho ouvir Mestre Fanho. Lembro-me de quando ele estava imobilizado, na cama. Ele nos dizia que ia se levantar. Era difícil acreditar. Hoje, quando jogamos numa roda, me emociono”, relembra Marcelo Peixoto da Costa, o contramestre Preto.

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